O tamanho da missão do Senhor Burgos - Por Wilson Candeias

Os periódicos da época noticiavam a fome que assolava Cabo Verde, então ainda território além-mar de Portugal. Todavia Augusto Messias de Burgos sempre manteve correspondência ativa com seu irmão Alfredo de Burgo que, além de relações amistosas de irmãos, o informava tudo sobre sua terra, e lhe detalhava a real situação sobre a fome que se alastrava entre as ilhas de Cabo Verde.

Comovido pelo triste momento de seu povo, junto de outros militantes do então Centro Amor e Caridade de Santos, em setembro de 1910, [1] formou-se uma comissão e promoveu-se intensa campanha de arrecadação de gêneros alimentícios, entre a população portuguesa [2] e os comerciantes de Santos, a fim de auxiliar amenizar a fome que afligia o desesperado povo de Cabo Verde.

Foi assim que na época, o senhor Augusto Messias de Burgos por tomar a dianteira para formar a comissão e coleta de alimentos, e por suas atividades nas Docas de Santos, mas também por estar próximo aos amigos senhores Luiz de Mattos e Luiz Alves Thomaz, como filho das ilhas de Cabo Verde, coube a ele a tarefa, em nome do Centro Amor e Caridade de Santos, acompanhar o navio procedente de Santos para Cabo Verde - fato que sensibilizou toda a população Cabo-verdiana. [3]

Dessa forma, se pode perceber claramente que nesse momento da história da espiritualidade, tanto o senhor Luiz de Mattos, como o senhor Luiz Alves Thomaz e nem o próprio senhor Augusto Messias de Burgos, tiveram a percepção da importância do gigantesco passo que estavam dando perante o progresso da espiritualidade e a evolução da humanidade.

No princípio do século XX, precisamente em 1910, a Cidade de Santos, apesar de ser muito pequena, além do comércio local, já despontava no Brasil com certa pujança financeira derivada do porto, fruto das exportações de café, porém essa grandeza financeira estava nas mãos de poucos comerciantes, entre vários podemos citar os senhores Luiz José de Mattos e Luiz Alves Thomaz, mas a grande maioria da população de Santos era constituída por imigrantes pobres sem condições de migrarem as áreas produtoras de café. [4]

Logo, tudo indica que o senhor Augusto Messias de Burgos como membro da mesa diretora do Centro Amor e Caridade em Santos foi destacado para levar alimentos ao povo cabo-verdiano, transformando-se no mensageiro de confiança do senhor Luiz Alves Thomaz. Sem demora, o Senhor Burgos se configurou como pedra angular de tão sublime missão: passo a passo, angariou gêneros alimentícios que transportou, descarregou e distribuiu pessoalmente pelas nove ilhas, assegurando para que as sacas de alimentos chegassem à sua totalidade, e em bom estado, às mãos dos famintos e desesperados ilhéus.


O senhor Burgos, recebeu o apoio de sua família, esposa e filhos menores, nesse ano de 1911 sua filha mais velha ainda contava com 13 anos, para ele não foi uma aventura, colocou sua vida em risco, seguiu em frente, deixou para trás, família, vida pessoal e o seu trabalho, definitivamente foi um “valente” como comandante dessa missão.

Da mesma forma, como o senhor Burgos ao iniciar em sua casa, um pequeno Centro Espírita, demonstrou uma forte característica em sua personalidade em ajudar aos demais, também se dedicou na entrega dos alimentos de ilha em ilha, de mão em mão, em Cabo Verde, assim pelo volume de seu esforço, gerou certa expectativa na população, portanto uma evidência singular que motivou o senhor Burgos a iniciar a espiritualidade no arquipélago.

Se olharmos essa viagem com os olhos da alma, se percebe claramente que “uma missão aconteceu”, que não foi apenas um navio levantar ancora. Houve a renúncia de interesses pessoais, o envolvimento e o comprometimento com a causa maior, portanto houve uma entrega sem desconfianças e sem medos de um grande homem por detrás dessa magnífica empreitada.

O tempo veio a demonstrar que o povo cabo-verdiano assimilou bem seu “exemplo” como um bem precioso, dessa forma sua simples lembrança representa uma referência, pois além de fortalecer a espiritualidade iniciada em Cabo Verde, do mesmo modo, muitos ao emigrarem carregam em sua bagagem emocional, o mesmo tom, a mesma fortaleza espiritual e hasteiam a mesma bandeira da esperança semeadora da autêntica espiritualidade nos países que aportam.

Apesar de não haver fontes nem referências, por essa expectativa gerada na população, nos leva a pensar, que, o senhor Burgos ao voltar no Brasil, tinha planos de retornar a Cabo Verde com mais recursos, para dar continuidade ao Centro Espírita Caridade e Amor recém-iniciado, que possivelmente ficou nas mãos do Cônego Teixeira, mas não contou com o desgaste emocional do senhor Thomaz, que em seguida o afastou da mesa diretora da espiritualidade que o senhor Burgos iniciou e amanhou em sua casa, por conseguinte com seu afastamento, ocorreu uma pausa, uma descontinuidade em sua sublime missão em sedimentar a espiritualidade em Cabo Verde.
O tamanho da missão do Senhor Burgos
Por Wilson Candeias
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[1] Livro não publicado “A Vida e a Luta de Luiz de Mattos” – Por Fernando Faria
[2] Jornal da Orla, de 29/30-08-2009, artigo assinado por Mauri Alexandrino
[3] Livro Luiz Thomaz – Benfeitor da humanidade – Por Galdino Rodrigues de Andrade 1ª edição – 2016:63, 64, 118, 121, 137
[4] Site Wikipédia/Imigração