O sofrimento de Augusto Messias de Burgos

Em 1916, o Senhor Luiz de Mattos foi o primeiro jornalista no Brasil a abrir as páginas no recém-inaugurado Jornal A Razão a todos que precisassem se defender de alguma possível acusação que fosse considerada injusta. Partindo dessa premissa, este texto tem como objetivo esclarecer o “mal-entendido” sobre a viagem a Cabo Verde do Senhor Augusto Messias de Burgos, ocorrida há mais de um século.

“... Em setembro de 1910, Augusto Messias de Burgos inventou uma viagem a São Vicente de Cabo Verde, onde seguramente passou um ano, cujas despesas de viagem e estadia naquela ilha foram custeadas pelo nosso ex-presidente...”.

Essa citação foi registrada em Ata de 20 de dezembro de 1931, reunião que aconteceu doze dias após a desencarnação do Senhor Luiz Alves Thomaz, pelo Senhor Ricardo Luiz Mendes (Presidente da Filial Santos, 1931/1953), que ao citar o Senhor Augusto Messias de Burgos, possivelmente tenha dado como fato verdadeiro, a uma controvérsia que vinha sendo murmurada, desde 1911, portanto repetida durante vinte anos.
Ainda na mesma Ata de Reunião o Senhor Ricardo Luiz Mendes, de forma antagônica, se contradisse sobre a razão da mesma viagem, ao afirmar:

Quando em 1911, os jornais anunciavam uma grande seca que assolava o arquipélago de Cabo Verde, a Diretoria do então Centro Espírita “Amor e Caridade”, nomeou uma comissão para fazer, pelo comércio, uma subscrição em favor das vítimas daquelas ilhas... a comissão somente conseguiu angariar a importância de 13:987$000... e como a necessidade... era de 61:000$000, ... Luiz Alves Thomaz... cobriu a quantia de 47 contos de reis.”

Todavia, passados 85 anos do registro do Senhor Ricardo Luiz Mendes, o Senhor Galdino Rodrigues de Andrade autor do livro Luiz Thomaz – Benfeitor da Humanidade, com o título de “A benemerência de Luiz Thomaz não tinha fronteiras”, sem citar a fonte, repetiu a mesma narrativa, porém dentro do adágio popular “quem conta um conto aumenta um ponto”, retoricamente aumentou o tom do teor:

Com a notícia de que o arquipélago de Cabo Verde estava sendo assolado pela impiedosa seca de 1911, desgraça climática com que os jornais ocupavam colunas e mais colunas, de maneira assustadora, e, por iniciativa de Luiz Thomaz, presidente do então Centro Espírita Amor e Caridade constituiu uma comissão com o fim específico de – através do comércio santista – granjear algum recurso para socorrer as vítimas da tremenda estiagem naquelas ilhas...” (2016, capítulo 7, página 63).

Vale lembrar que segundo a família do Senhor Augusto Messias de Burgos, ele mantinha correspondência com seu irmão Alfredo Burgos, que o mantinha informado dos problemas de seu torrão natal.

Dessa forma, tudo nos leva a crer que em Setembro de 1910 quando o Senhor Burgos, comovido pela fome que passava seu povo, submeteu a ideia da coleta de alimentos à diretoria, da qual fazia parte, do Centro Amor e Caridade de Santos, e o Senhor Luiz Alves Thomaz com sua benemerência, imediatamente, nomeou uma comissão para fazer pelo comércio, uma subscrição em favor das vítimas daquelas ilhas, a qual Augusto Messias de Burgos participou ativamente na campanha de arrecadação de gêneros alimentícios entre a população de Santos, a fim de amenizar a fome que no início do século afligia o povo Cabo-verdiano.
Entretanto algumas dúvidas permanecem no ar: numa época em que a velocidade de comunicação era "zero", entre a ideia aprovada em setembro de 1910 e a partida do navio em agosto de 1911, decorreram 11 meses de preparação para tal viagem. Então vale questionar, onde e como foram armazenados esses alimentos? Quem foi o estrategista desse volume de alimentos? É possível atribuir toda essa responsabilidade ao Senhor Augusto Messias de Burgos?

Entretanto no mesmo livro, capitulo sete, na página 64, com certa lisonja nas palavras, o autor bordou a sua retórica, ignorando completamente o possível empenho do Senhor Augusto Messias de Burgos, ao afirmar:

“... Assim, o vapor destinado a esse transporte levantou ferro, e sulcando o mar bravio levou o alimento àqueles que foram desamparados pela própria natureza...”

Clique na imagem para AMPLIAR
De acordo com a tese de doutorado do Professor João Vasconcelos “Espíritos Atlânticos: Um Espiritismo Luso-Brasileiro em Cabo Verde” — III – A encarnação do espiritismo em São Vicente entre 1911 e 1931 – página 68 nos diz:
Clique na imagem
para AMPLIAR

As autoridades da província mostraram-se reconhecidas. A 3 de Agosto, foi informado do embarque dos mantimentos no Brasil, o Governador Júdice Biker fez publicar uma portaria na qual, em nome do povo de Cabo Verde, agradecia ao Centro Amor e Caridade e a Augusto Messias de Burgos o ato generoso e humanitário. A 23 de Novembro, terminada a distribuição dos alimentos pelas ilhas, a Comissão Municipal de São Vicente subscreveu por unanimidade um voto de louvor a Messias de Burgos e ao Centro de Santos, pelos relevantes serviços prestados aos famintos.”

Mas segundo o Senhor Galdino Rodrigues de Andrade em seu livro Luiz Thomaz – Benfeitor da Humanidade, 2016, capítulo 7, página 73, com o título de “Luiz Thomaz foi iludido em sua boa fé”, ainda sem citar a origem da expressão, e ainda dentro da lógica de “quem conta um conto aumenta um ponto”, não tentou agradecer o conquistado e nem tentou corrigir os erros seculares, após 85 anos, preferiu seguir a
ou
mesma triste interpretação do Senhor Ricardo Luiz Mendes, contra o Senhor A.M.B., lamentavelmente, um sofisma que se contradiz com o real motivo e a importância da viagem, que foi em levar alimentos e distribuí-los aos famintos Cabo-verdianos, afirmou:

Enquanto Luiz Thomaz se esfalfava no trabalho, só pensando na independência financeira da Doutrina, A.M.B. fazia “turismo”, viajando a São Vicente de Cabo Verde, onde permaneceu – seguramente – por um ano, sendo as despesas decorrentes das confortáveis viagens, assim como da estada em luxuosos hotéis naquela ilha custeadas integralmente pelo presidente do Centro Espírita Amor e Caridade, de Santos”.

No sentido contrário desse secular equívoco o escritor e historiador cabo-verdiano Senhor Martinho de Mello Andrade, nascido na década de 1930, conhecedor dos hábitos e histórias contadas por seus mais velhos conterrâneos, portanto um dos alunos de Henrique Baptista Morazzo nos relata que:

Assista ao vídeo de lançamento do Nosso Livro de Racionalismo Cristão
E para encomendar o livro: marmellande@hotmail.com
Augusto Messias de Burgos foi comedido em todas as vertentes sociais, com tônica nas despesas pessoais. Durante a sua estadia em Cabo Verde, ele se hospedava em casa de seus familiares, pois que nessa época não havia Hotéis, mormente Hotéis de Luxo.” Nosso Livro de Racionalismo Cristão, 2018, capítulo 9.

Ainda para corroborar com a afirmativa do Senhor Martinho de Melo Andrade, o Pesquisador Investigativo Professor Doutor Joaquim Saial, esclareceu:

"... Tanto o Hotel Brazileiro (com z) como o Hotel Central não possuíam energia elétrica, pois somente foi inaugurada em 1926... eram bem modestos... se supõe que tinham qualidade... à das chamadas pensões, hospedarias, pousadas, ou casas de pasto do início do século XX... os mantimentos passaram... com qualidade em ambos os hotéis a partir de 13 de Junho de 1913, quando se iniciou os serviços de gelo...  à obra de construção do primeiro hotel de boa qualidade Hotel Porto Grande, só se deu por volta de 1964, e sua inauguração ocorreu aproximadamente entre 1965 e 1966".
Clique na imagem para AMPLIAR

Se não fosse um cabo-verdiano, aquilo que é hoje o Racionalismo Cristão não existiria...” Professor João Vasconcelos - Livro A História do Racionalismo Cristão em São Vicente, 2011, página 86.

Como testemunhos que mostram a determinação do Senhor Augusto Messias de Burgos em honrar o compromisso com o Sr. Thomaz de que os alimentos não se perderiam, contradizendo o Senhor Galdino Rodrigues de Andrade, o Senhor Burgos enquanto esteve em Cabo Verde, entregou os alimentos em mãos de cada faminto, tanto que recebeu um agradecimento em 03-08-1911 do Senhor Júdice Biker e, também, voto de louvor em 23-11-1911 da Câmara Municipal de Mindelo dedicado ao Centro Espírita Amor e Caridade de Santos.

Por outro lado, o Senhor Luiz de Mattos nos dá um testemunho vital, a favor do Senhor Burgos, quando registrou o inicio do Centro Espírita Caridade e Amor de São Vicente, em Cabo Verde, nos anos de 1912 e 1913, conforme citado no Livro “O Espiritismo Cristão no Brasil – O Centro Espírita Redentor, sua Fundação, Sua Vida e Suas Obras”, Rio de Janeiro, 1912 e 1913, na página 64, sob o título de “Centros Filiados”.

ponhais uma pedra no passado, tende agora em mira somente o presente” – Luiz Alves Thomaz

O Senhor Luiz Alves Thomaz, já como espírito liberto da matéria, quatro dias após sua desencarnação, em 12-12-1931, reconheceu alguns equívocos e difíceis momentos durante sua trajetória evolutiva e se desculpa perante o presidente físico do Racionalismo Cristão Senhor Antônio do Nascimento Cottas.

“... a matéria é densa e por vezes os nossos defeitos de educação muito concorrem para que não sejamos aquilo que desejamos ser. Quantas vezes fui injusto!... Quantas vezes!... desejando que ponhais uma pedra no passado, tende agora em mirar somente o presente, portanto, lutai com denodo, procurai dar à Doutrina o impulso de que ela carece.”...

É notório que passou despercebido o esclarecimento espiritual dado pelo Senhor Luiz Alves Thomaz, ocorrido em 12-12-1931, portanto quatro dias após a sua desencarnação, dessa maneira, neste ano de 2018 em que relembramos o sesquicentenário do Senhor Augusto Messias de Burgos, torna-se necessário esclarecer esse falso enredo centenário, e para tal, vejamos as mesmas frases, mas na forma sequencial, contada por cada um dos autores citados em 1931 e depois em 2016, perceberão que nesse “ardil” foi excluído o mérito do Senhor Augusto Messias de Burgos, já que sem o seu empenho, não teríamos engajado o povo Cabo-verdiano em nossa filosofia espiritualista:

◘ 1931 - Alinhando as duas frases escritas pelo Senhor Ricardo Luiz Mendes na mesma Ata de Reunião de 20 de Dezembro de 1931, temos:

“... Em setembro de 1910, Augusto Messias de Burgos inventou uma viagem a São Vicente de Cabo Verde, onde seguramente passou um ano, cujas despesas de viagem e estadia naquela ilha foram custeadas pelo nosso ex-presidente...”

Quando em 1911, os jornais anunciavam uma grande seca que assolava o arquipélago de Cabo Verde, a Diretoria do então Centro Espírita “Amor e Caridade”, nomeou uma comissão para fazer, pelo comércio, uma subscrição em favor das vítimas daquelas ilhas... a comissão somente conseguiu angariar a importância de 13:987$000... e como a necessidade... era de 61:000$000, ... Luiz Alves Thomaz... cobriu a quantia de 47 contos de reis.”

◘ 2016 - Alinhando as três frases escritas pelo Senhor Galdino Rodrigues de Andrade, no capítulo 7 do Livro Luiz Thomaz – Benfeitor da Humanidade, 2016, temos:
ou

Com a notícia de que o arquipélago de Cabo Verde estava sendo assolado pela impiedosa seca de 1911, desgraça climática com que os jornais ocupavam colunas e mais colunas, de maneira assustadora, e, por iniciativa de Luiz Thomaz, presidente do então Centro Espírita Amor e Caridade constituiu uma comissão com o fim específico de – através do comércio santista – granjear algum recurso para socorrer as vítimas da tremenda estiagem naquelas ilhas...”

“... Assim, o vapor destinado a esse transporte levantou ferro, e sulcando o mar bravio levou o alimento àqueles que foram desamparados pela própria natureza...”

Enquanto Luiz Thomaz se esfalfava no trabalho, só pensando na independência financeira da Doutrina, A.M.B. fazia “turismo”, viajando a São Vicente de Cabo Verde, onde permaneceu – seguramente – por um ano, sendo as despesas decorrentes das confortáveis viagens, assim como da estada em luxuosos hotéis naquela ilha custeadas integralmente pelo presidente do Centro Espírita Amor e Caridade, de Santos.”

Diante do descrédito rotulado ao Senhor Burgos, e as fortes palavras “inventou uma viagem e lá seguramente passou um ano nos melhores hotéis as expensas do...”, e o fato de nunca ter sido mencionado seu nome no mérito da viagem, fica a pergunta:

Seria este momento de seu sesquicentenário a oportunidade de dar ao Senhor Augusto Messias de Burgos o reconhecimento que lhe é devido?

Também entendemos que é difícil se desfazer desse “ardil” secular, assim para entender a eficiência da profícua viagem de Augusto Messias de Burgos para levar alimentos a Cabo Verde que foram custeados parcialmente (77,08%) pelo Senhor Luiz Thomaz e o restante (22,92%) angariado pelo Senhor Burgos no comércio local, que aliado ao trabalho árduo do Senhor Burgos na entrega desses alimentos marcou a alma da nação Cabo-verdiana.

Hoje, ao fluidificar este equívoco secular, resilientes, irradiemos ao nosso Augusto Messias de Burgos para que as sementes por ele plantadas continuem a germinar, se fortifiquem e se expandam além das fronteiras que conhecemos.

O sofrimento de Augusto Messias de Burgos.
by Cabo Verde é Vida
_________________
Este texto é resultado de pesquisas e tem como objetivo contribuir no esclarecimento de possíveis pontos não abordados na caminhada de lutas e reveses de algumas pessoas, que participaram na construção da filosofia espiritualista dedicada à humanidade, fundada pelos Senhores Luiz de Mattos e Luiz Alves Thomaz.
_________________

CONVITE

Casa-Chefe Rio de Janeiro
A todos os que sofrem com as decepções e reveses da vida ou aqueles que vivem num momento de bonança, convidamos a conhecerem a nossa filosofia espiritualista Racionalista Cristã, bem como os benefícios da corrente fluídica em uma de nossas reuniões públicas.
A entrada é franca e todos são bem-vindos!

Dias:
2as, 4as, e 6as feiras – das 20:00h às 21:00h
A entrada é permitida entre 19:20h até as 20:07h
Consulte o endereço que mais lhe convém e horários:
Ou tire suas dúvidas:

Visite nossa Filial São Paulo

a entrada é franca e todos são bem-vindos!
.
Rua Gabriel Piza, 313 – Santana – São Paulo
(a menos de 100 metros da estação Santana do metrô)

Poderá gostar de conhecer: