“... Em setembro de 1910, Augusto Messias de
Burgos inventou uma viagem a São Vicente de Cabo Verde, onde seguramente passou
um ano, cujas despesas de viagem e estadia naquela ilha foram custeadas pelo
nosso ex-presidente...”.
Essa citação foi
registrada em Ata de 20 de dezembro de 1931, reunião que aconteceu doze dias
após a desencarnação do Senhor Luiz Alves Thomaz, pelo Senhor Ricardo Luiz
Mendes (Presidente da Filial Santos, 1931/1953), que ao citar o Senhor Augusto
Messias de Burgos, possivelmente tenha dado como fato verdadeiro, a uma
controvérsia que vinha sendo murmurada, desde 1911, portanto repetida durante
vinte anos.
Ainda na mesma Ata
de Reunião o Senhor Ricardo Luiz Mendes, de forma antagônica, se contradisse
sobre a razão da mesma viagem, ao afirmar:
“Quando em 1911, os jornais anunciavam uma
grande seca que assolava o arquipélago de Cabo Verde, a Diretoria do então
Centro Espírita “Amor e Caridade”, nomeou uma comissão para fazer, pelo
comércio, uma subscrição em favor das vítimas daquelas ilhas... a comissão
somente conseguiu angariar a importância de 13:987$000... e como a
necessidade... era de 61:000$000, ... Luiz Alves Thomaz... cobriu a quantia de
47 contos de reis.”
Todavia, passados 85
anos do registro do Senhor Ricardo Luiz Mendes, o Senhor Galdino Rodrigues de
Andrade autor do livro Luiz Thomaz – Benfeitor da Humanidade, com o título
de “A benemerência de Luiz Thomaz não tinha fronteiras”, sem citar a fonte,
repetiu a mesma narrativa, porém dentro do adágio popular “quem conta um conto
aumenta um ponto”, retoricamente aumentou o tom do teor:
“Com a notícia de que o arquipélago de Cabo
Verde estava sendo assolado pela impiedosa seca de 1911, desgraça climática com
que os jornais ocupavam colunas e mais colunas, de maneira assustadora, e, por
iniciativa de Luiz Thomaz, presidente do então Centro Espírita Amor e Caridade
constituiu uma comissão com o fim específico de – através do comércio santista
– granjear algum recurso para socorrer as vítimas da tremenda estiagem naquelas
ilhas...” (2016, capítulo 7, página 63).
Vale lembrar que
segundo a família do Senhor Augusto Messias de Burgos, ele mantinha
correspondência com seu irmão Alfredo Burgos, que o mantinha informado dos
problemas de seu torrão natal.
Dessa forma, tudo
nos leva a crer que em Setembro de 1910 quando o Senhor Burgos,
comovido pela fome que passava seu povo, submeteu a ideia da coleta de
alimentos à diretoria, da qual fazia parte, do Centro Amor e Caridade de
Santos, e o Senhor Luiz Alves Thomaz com sua benemerência,
imediatamente, nomeou uma comissão para fazer pelo comércio, uma
subscrição em favor das vítimas daquelas ilhas, a qual Augusto Messias de
Burgos participou ativamente na campanha de arrecadação de gêneros alimentícios
entre a população de Santos, a fim de amenizar a fome que no início do século
afligia o povo Cabo-verdiano.
Entretanto algumas
dúvidas permanecem no ar: numa época em que a velocidade de comunicação
era "zero", entre a ideia aprovada em setembro de
1910 e a partida do navio em agosto de 1911, decorreram 11 meses
de preparação para tal viagem. Então vale questionar, onde e como foram
armazenados esses alimentos? Quem foi o estrategista desse volume de alimentos?
É possível atribuir toda essa responsabilidade ao Senhor Augusto Messias de
Burgos?
Entretanto no mesmo
livro, capitulo sete, na página 64, com certa lisonja nas palavras, o autor
bordou a sua retórica, ignorando completamente o possível empenho do Senhor
Augusto Messias de Burgos, ao afirmar:
“... Assim, o vapor destinado a esse transporte
levantou ferro, e sulcando o mar bravio levou o alimento àqueles que foram
desamparados pela própria natureza...”
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De acordo com a tese
de doutorado do Professor João Vasconcelos “Espíritos Atlânticos: Um
Espiritismo Luso-Brasileiro em Cabo Verde” — III – A encarnação do espiritismo
em São Vicente entre 1911 e 1931 – página 68 nos diz:
“As autoridades da província mostraram-se
reconhecidas. A 3 de Agosto, foi informado do embarque dos mantimentos no
Brasil, o Governador Júdice Biker fez publicar uma portaria na qual, em nome do
povo de Cabo Verde, agradecia ao Centro Amor e Caridade e a Augusto Messias de
Burgos o ato generoso e humanitário. A 23 de Novembro, terminada a distribuição
dos alimentos pelas ilhas, a Comissão Municipal de São Vicente subscreveu por
unanimidade um voto de louvor a Messias de Burgos e ao Centro de Santos, pelos relevantes
serviços prestados aos famintos.”
Mas segundo o Senhor
Galdino Rodrigues de Andrade em seu livro Luiz Thomaz – Benfeitor da
Humanidade, 2016, capítulo 7, página 73, com o título de “Luiz Thomaz foi iludido em sua boa fé”,
ainda sem citar a origem da expressão, e ainda dentro da lógica de “quem conta
um conto aumenta um ponto”, não tentou agradecer o conquistado e nem tentou
corrigir os erros seculares, após 85 anos, preferiu seguir a
mesma triste
interpretação do Senhor Ricardo Luiz Mendes, contra o Senhor A.M.B.,
lamentavelmente, um sofisma que se contradiz com o real motivo e a importância
da viagem, que foi em levar alimentos e distribuí-los aos famintos
Cabo-verdianos, afirmou:
ou
|
“Enquanto Luiz Thomaz se esfalfava no
trabalho, só pensando na independência financeira da Doutrina, A.M.B. fazia
“turismo”, viajando a São Vicente de Cabo Verde, onde permaneceu – seguramente
– por um ano, sendo as despesas decorrentes das confortáveis viagens, assim
como da estada em luxuosos hotéis naquela ilha custeadas integralmente pelo
presidente do Centro Espírita Amor e Caridade, de Santos”.
No sentido contrário
desse secular equívoco o escritor e historiador cabo-verdiano Senhor Martinho
de Mello Andrade, nascido na década de 1930, conhecedor dos hábitos e histórias
contadas por seus mais velhos conterrâneos, portanto um dos alunos de Henrique
Baptista Morazzo nos relata que:
Assista ao vídeo de lançamento do Nosso Livro de Racionalismo Cristão E para encomendar o livro: marmellande@hotmail.com |
“Augusto Messias de Burgos foi comedido em
todas as vertentes sociais, com tônica nas despesas pessoais. Durante a sua
estadia em Cabo Verde, ele se hospedava em casa de seus familiares, pois que
nessa época não havia Hotéis, mormente Hotéis de Luxo.” Nosso Livro de Racionalismo Cristão, 2018, capítulo 9.
Ainda para
corroborar com a afirmativa do Senhor Martinho de Melo Andrade, o Pesquisador
Investigativo Professor Doutor Joaquim Saial, esclareceu:
"... Tanto o Hotel Brazileiro (com z) como o
Hotel Central não possuíam energia elétrica, pois somente foi inaugurada em
1926... eram bem modestos... se supõe que tinham qualidade... à das chamadas
pensões, hospedarias, pousadas, ou casas de pasto do início do século XX... os
mantimentos passaram... com qualidade em ambos os hotéis a partir de 13 de
Junho de 1913, quando se iniciou os serviços de gelo... à obra de
construção do primeiro hotel de boa qualidade Hotel Porto Grande, só se deu por
volta de 1964, e sua inauguração ocorreu aproximadamente entre 1965 e 1966".
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“Se não fosse um cabo-verdiano, aquilo que é
hoje o Racionalismo Cristão não existiria...” Professor João Vasconcelos -
Livro A História do Racionalismo Cristão em São Vicente, 2011, página 86.
Como testemunhos que
mostram a determinação do Senhor Augusto Messias de Burgos em honrar o
compromisso com o Sr. Thomaz de que os alimentos não se perderiam,
contradizendo o Senhor Galdino Rodrigues de Andrade, o Senhor Burgos enquanto esteve em Cabo Verde,
entregou os alimentos em mãos de cada faminto, tanto que recebeu um
agradecimento em 03-08-1911 do Senhor Júdice Biker e, também, voto de louvor em
23-11-1911 da Câmara Municipal de Mindelo dedicado ao Centro Espírita Amor e Caridade
de Santos.
Por outro lado, o
Senhor Luiz de Mattos nos dá um testemunho vital, a favor do Senhor Burgos,
quando registrou o inicio do Centro Espírita Caridade e Amor de São Vicente, em
Cabo Verde, nos anos de 1912 e 1913, conforme citado no Livro “O Espiritismo Cristão no Brasil – O Centro
Espírita Redentor, sua Fundação, Sua Vida e Suas Obras”, Rio de Janeiro,
1912 e 1913, na página 64, sob o título de “Centros Filiados”.
“ponhais uma pedra no passado, tende agora em
mira somente o presente” – Luiz Alves Thomaz
O Senhor Luiz Alves
Thomaz, já como espírito liberto da matéria, quatro dias após sua
desencarnação, em 12-12-1931, reconheceu alguns equívocos e difíceis momentos
durante sua trajetória evolutiva e se desculpa perante o presidente físico do
Racionalismo Cristão Senhor Antônio do Nascimento Cottas.
“... a matéria é densa e por vezes os nossos
defeitos de educação muito concorrem para que não sejamos aquilo que desejamos
ser. Quantas vezes fui injusto!... Quantas vezes!... desejando que ponhais
uma pedra no passado, tende agora em mirar somente o presente, portanto, lutai
com denodo, procurai dar à Doutrina o impulso de que ela carece.”...
É notório que passou
despercebido o esclarecimento espiritual dado pelo Senhor Luiz Alves Thomaz, ocorrido
em 12-12-1931, portanto quatro dias após a sua desencarnação, dessa maneira,
neste ano de 2018 em que relembramos o sesquicentenário do Senhor Augusto
Messias de Burgos, torna-se necessário esclarecer esse falso enredo centenário,
e para tal, vejamos as mesmas frases, mas na forma sequencial, contada por cada
um dos autores citados em 1931 e depois em 2016, perceberão que nesse “ardil”
foi excluído o mérito do Senhor Augusto Messias de Burgos, já que sem o seu
empenho, não teríamos engajado o povo Cabo-verdiano em nossa filosofia
espiritualista:
◘ 1931 - Alinhando as
duas frases escritas pelo Senhor Ricardo Luiz Mendes na mesma Ata de Reunião de
20 de Dezembro de 1931, temos:
“... Em setembro de 1910, Augusto Messias de
Burgos inventou uma viagem a São Vicente de Cabo Verde, onde seguramente passou
um ano, cujas despesas de viagem e estadia naquela ilha foram custeadas pelo
nosso ex-presidente...”
“Quando em 1911, os jornais anunciavam uma
grande seca que assolava o arquipélago de Cabo Verde, a Diretoria do então
Centro Espírita “Amor e Caridade”, nomeou uma comissão para fazer, pelo
comércio, uma subscrição em favor das vítimas daquelas ilhas... a comissão
somente conseguiu angariar a importância de 13:987$000... e como a
necessidade... era de 61:000$000, ... Luiz Alves Thomaz... cobriu a quantia de
47 contos de reis.”
◘ 2016 - Alinhando as
três frases escritas pelo Senhor Galdino Rodrigues de Andrade, no capítulo 7 do
Livro Luiz Thomaz – Benfeitor da Humanidade, 2016, temos:
ou
|
“Com a notícia de que o arquipélago de Cabo
Verde estava sendo assolado pela impiedosa seca de 1911, desgraça climática com
que os jornais ocupavam colunas e mais colunas, de maneira assustadora, e, por
iniciativa de Luiz Thomaz, presidente do então Centro Espírita Amor e Caridade
constituiu uma comissão com o fim específico de – através do comércio santista
– granjear algum recurso para socorrer as vítimas da tremenda estiagem naquelas
ilhas...”
“... Assim, o vapor destinado a esse transporte
levantou ferro, e sulcando o mar bravio levou o alimento àqueles que foram
desamparados pela própria natureza...”
“Enquanto Luiz Thomaz se esfalfava no
trabalho, só pensando na independência financeira da Doutrina, A.M.B. fazia
“turismo”, viajando a São Vicente de Cabo Verde, onde permaneceu – seguramente
– por um ano, sendo as despesas decorrentes das confortáveis viagens, assim
como da estada em luxuosos hotéis naquela ilha custeadas integralmente pelo
presidente do Centro Espírita Amor e Caridade, de Santos.”
Diante do descrédito
rotulado ao Senhor Burgos, e as fortes palavras “inventou uma viagem e lá seguramente passou um ano nos melhores hotéis
as expensas do...”, e o fato de nunca ter sido mencionado seu nome no
mérito da viagem, fica a pergunta:
Seria este momento
de seu sesquicentenário a oportunidade de dar ao Senhor Augusto Messias de
Burgos o reconhecimento que lhe é devido?
Também entendemos
que é difícil se desfazer desse “ardil” secular,
assim para entender a eficiência da profícua viagem de Augusto Messias de
Burgos para levar alimentos a Cabo Verde que foram custeados parcialmente (77,08%) pelo
Senhor Luiz Thomaz e o restante (22,92%) angariado pelo Senhor Burgos no
comércio local, que aliado ao trabalho árduo do Senhor Burgos na entrega desses
alimentos marcou a alma da nação Cabo-verdiana.
Hoje, ao fluidificar
este equívoco secular, resilientes, irradiemos ao nosso Augusto Messias de
Burgos para que as sementes por ele plantadas continuem a germinar, se
fortifiquem e se expandam além das fronteiras que conhecemos.
O sofrimento de Augusto
Messias de Burgos.
by Cabo Verde é Vida
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Este texto é
resultado de pesquisas e tem como objetivo contribuir no esclarecimento de
possíveis pontos não abordados na caminhada de lutas e reveses de algumas
pessoas, que participaram na construção da filosofia espiritualista dedicada à
humanidade, fundada pelos Senhores Luiz de Mattos e Luiz Alves Thomaz.
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CONVITE
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A todos os que
sofrem com as decepções e reveses da vida ou aqueles que vivem num momento de
bonança, convidamos a conhecerem a nossa filosofia espiritualista Racionalista
Cristã, bem como os benefícios da corrente fluídica em uma de nossas reuniões
públicas.
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